Blog destinado ao estudo sobre a pratica religiosa dos congos ...

Vodu Haitiano

Os Loas - Deuses do Vodu Haitiano:

Divindades do Vodu -

Desde sua chegada ao Caribe, os negros perceberam que suas crenças não eram bem vistas pelos "senhores" brancos. Para evitar sua irritação e represálias, adotaram um curioso expediente para preservar o culto de seus Deuses tradicionais: identificaram-nos com as divindades cristãs propriamente ditas.

Assim, Obatalá passou a ser a Virgem das Mercês, Aleguá identificou-se com as almas do purgatório.
Entre os negros que vieram para o Brasil ocorreria um fenômeno semelhante: Xangô foi assimilado a São Jerônimo, Ogum passou a ser São Jorge. Nanamburucu confundiu-se com Santa Ana, enquanto Oxossi se fez São Sebastião. Iemanjá transformou-se em Nossa Senhora da Piedade, lansã, mulher de Xangô,
passou a ser Santa Bárbara, e Obá, companheira de Ogum, foi sincretizada com Santa Joana D'Arc.
Há, porém, uma entidade superior no vodu haitiano: é Bon Dieu, criador dos deuses e dos homens, dos quais se desinteressou por completo, a ponto de rir da miséria humana. Esta entidade maior encontraria correspondente no Olorum afro-cubano.
Os jimaguas ou gêmeos, representados por dois bonequinhos de cor preta e vestidos de vermelho não encontraram entidade similar; corresponderiam, entretanto, aos ibeji da Bahia, assimilados estes a São Cosme e São Damião. Os gêmeos da Bahia conformam a divinização do parto duplo, bastante comum entre os nagôs.
Exu, ou como se diz em Cuba, Echu ou Elegguá, foi identificado ao diabo dos cristãos, o termo é de origem iorubá, significando divindade buliçosa. No Brasil, Exu tem fetiches trabalhados em barro, ferro ou madeira, sempre com acentuadas características fálicas. A assimilação de Exu ao diabo fez com que esta figura do sincretismo negro fosse apresentada como o próprio mal, interpretado este como a eterna luta entre o bem e o mal, vale dizer, dentro de nossos tradicionais padrões de moral. 
Entretanto, o pensamento iorubá não apresenta o mundo como fruto exclusivo desta dualidade, mas, sim, reconhece a existência de poderes construtivos e destrutivos, forças que, à deriva tanto podem ser invocadas para o bem como para os malefícios. o segredo da vida e o verdadeiro sentido da adoração e do respeito aos Orisàs consiste em estabelecer uma relação construtiva entre estes poderes latentes.
Quanto ao panteão do vodu haitiano, propriamente dito, é vasto como a imaginação humana. Suas divindades são denominadas loá (delwa, loi) ou mistérios, na parte sul do país, e santos na parte norte. Podem ter origem africana ou antilhana, sendo mais significativas no primeiro caso.
Quando alguém que revele qualidades notáveis vem a falecer sua alma pode se tornar um Loa. Assim, o panteão do vodu cresce indefinidamente, nacionalizando-se cada vez mais. Por ele desfilam heróis nacionais, sacerdotes e até piratas famosos.
Ogum, divindade de origem iorubá, representando o ferro e o fogo, converteu-se, no Haiti, numa família inteira de deuses guerreiros. Assim, o vodu reconhece Ogun Badagris (que tem o posto de general), Ogum Ferraille (patrono dos soldados), Ogun Ashade (médico atendente dos militares em campanha) e Ogun Balindjo (curandeiro e também general).
Ogun Badagris, à guisa de exemplo, transformou-se em São Tiago, e podemos lembrar que Ogum, na liturgia umbandista, equivale a São Jorge. No Haiti, o fiel montado por Ogun Badagris comporta-se como um guerreiro, agita a espada, fuma enormes charutos e pede rum.
Erzulie-Freda-Dahomey ou Ezili-Freda ou, ainda, Maltresse Ezili, comparada freqüentemente com Afrodite, pertence, como esta deusa grega, às divindades do mar e personifica a graça e a beleza femininas.
Lindíssima, é sensual, volúvel, vaidosa e pródiga. Em cada houmfort háum compartimento especial para esta divindade, onde nunca faltam sabonetes, toalhas, perfumes e mais artigos de toucador. Adereços femininos são seus atributos, mas, seu símbolo é um coração. É representada como uma mulher branca vestida de azul, tendo muito em comum com nossa Iemanjá ou Janaína.
No ritual rada, Erzulie é denominada Erzulie-Freda-Dahomey; terna e sensual, nascida da espuma das ondas do mar, seu pai é Agoué-taroyo (Agoué é corruptela do daomeano agbé, o mar), patrono dos navegantes. Já no service petro ela se chama Erzulie Dantor, e o coração que é seu vevé (brasão) passa a ser transpassado por punhais. Ela é, então, o amor paixão, que sublima o amor selvagem. E no rito zandor Erzulie se transforma em Erzulie zila ou Erzulie-zieux-rouges, monstro que devora os próprios filhos.
Damballah é a serpente, loa da fertilidade. O fiel, montado por esta divindade, arrasta-se pelo chão ou dependura-se de cabeça para baixo no teto do houmfort. Damballah está identificada com São Pedro ou São Patrício.
Já na cidade daomeana de Whydah (Ouiddah), a serpente era um animal sagrado a tal ponto que se aplicava a pena de morte a quem, mesmo inadvertidamente, matasse um ofídio.
No ritual rada, Damballah se reproduz por cissiparidade; macho, sob o nome de Damballah Ouedo, e fêmea, sob o cognome Aida Ouedo. No service petro, Damballah passa a ser Damballah Flambeau, ser andrógino, cujo principal atributo é a onisciência.
Nas chamadas seitas vermelhas haitianas, das quais falaremos adiante, Damballah gozaria de prestígio ímpar. Presume-se que uma cerimônia de adoração ao deus-serpente apresenta, em linhas gerais, o seguinte encaminhamento: na calada da noite, os fiéis começam a chegar, trazendo lenços vermelhos ao pescoço e sandálias nas mãos. Um sacerdote e uma sacerdotisa postam-se ao lado do altar principal, onde, num engradado encontra-se uma serpente viva. Depois de todos estarem seguros de que o ritual se acha ao abrigo de olhos profanos, os crentes formulam um juramento de que guardarão o mais absoluto segredo de suas práticas, lançando, contra si próprios, uma terrível maldição, caso faltem ao prometido. Em seguida, todos se põem em fila, em ordem de antiguidade de filiação à seita. Começam a expor seus desejos e ambições, em lamúrias e invocações à divindade. O sacerdote coloca a jaula do ofídio no centro do terreiro e ordena que a sacerdotisa se aproxime. Esta, ao se acercar do animal, começa a tremer e a manifestar convulsões, à semelhança de um réptil, enunciando profecias e respostas às questões propostas pelos fiéis. E, logo formula ordens que serão cegamente cumpridas pelos respectivos destinatários. Terminada a sessão de consultas, os crentes passam a depositar suas oferendas ao pé do altar e, para consolidar o juramento anteriormente feito, bebem o sangue de um carneiro imolado na ocasião. Quanto à cerimônia de iniciação numa seita vermelha, supõe-se seja a seguinte: o sacerdote ou bruxo traça um círculono chão e manda que os candidatos se aproximem. 
Cada um dos bruxos em potencial recebe uma "pancadinha" na cabeça, dada pelo bruxo maior com sua varinha mágica, e começa a bailar dentro do círculo. Caso perca o equilíbrio e saia da roda, eis um mau presságio; poderá, no entanto, ter nova oportunidade, como poderá, também, ser tido como um espião e entrar em maus lençóis...
Após a recepção dos novos membros da seita, o mestre de cerimônias põe um pé e uma das mãos sobre a serpente, ao que todos os presentes começam a entrar em transe, movendo o tronco, os braços e a cabeça, como se fossem cobras, tudo complementado com aguardente e outras drogas. A reunião se transforma numa orgia infernal, com urros, imprecações e queixas.
Agoué-taroyo é o loá responsável pelo mar, sua fauna e flora, e pelas embarcações. Tem por emblema navios em miniatura, remos pintados de azul ou de verde, conchinhas ou madrepérolas e, às vezes, pequenos peixes de metal. É representado sob a forma de um mulato de pele mais clara que o normal e de olhos verdes.
Heviossos (deuses do raio e do trovão, e que têm muito em comum com o Xangô dos iorubá) são também responsáveis pela aplicação da justiça, como Ogum o faz na umbanda.
Abaixo dos loás propriamente ditos, e do vodu stricto sensu, existem duas outras categorias de espíritos menos cotados: os zaka e os guedé. Aqueles concedem a fertilidade do solo, divindades agrícolas que são, e costumam dizer pesados gracejos pela boca de seus cavalos. 
Um de seus mais significativos representantes é Zaka, também chamado Azaka-Méde ou Azaka-Tonnerre (Azaka-Trovão). Como um camponês, Azaka é avaro, desconfiado e hostil ao pessoal da cidade. E desencadeia o raio e o trovão, a exemplo de Heviossos. Os guedé são divindades daomeanas; criadas pelo guedé-vi, povo conquistado pelos fon e que era aferrado, ao que parece, por mórbida inclinação, para coisas fúnebres, pois no Haiti estes espíritos são patronos dos cemitérios e da morte. Surgem vestidos como agentes funerários, portando velhas sobrecasacas e cartola, como o faz, por exemplo, Baron Cemitière. Também gostam de dizer obscenidades, pelo que a cerimônia se divide, sempre, em duas partes: uma dramática (possessão dos fiéis pelos espíritos refinados), outra, cômica (possessão dos fiéis pelos zaka e pelos guedé). Baron Samedi (samedi, sábado, vale dizer, o último dia da Criação), colocado sob o signo de Saturno e simbolizado pela cor negra, tem parceiro certo no Exu Caveira, da macumba carioca. Este espírito haitiano é também conhecido por Baron Cemitière ou Baron-la-Croix, e tem como símbolo, a exemplo de Legba, uma cruz negra, marchetada em prata, que traduz a unidade da vida e da morte.
Era o santo padroeiro do presidente François Duvalier. (François Duvalier, mais conhecido como Papa Doc nasceu em 14 de abril de 1907, Port-au-Prince, Haiti – faleceu em 21 de abril de 1971, Haiti. Foi médico e ex-ditador do Haiti. Foi eleito presidente daquele país em 1957).
Este texto terá continuação...

------------------------------------------------------------------------------------------------------------